“Véspera” é mais um romance imperdível de Carla Madeira, tão sensível e brilhantemente intrincado como “Tudo é rio” (já resenhado por aqui). Outra característica que se repete em “Véspera” é a dificuldade de tecer qualquer comentário sobre ele sem estragar as surpresas que o texto traz. Esse seria um pecado imperdoável que não irei cometer. Assim, me limito a dizer que a história dos irmãos gêmeos Caim e Abel começa com uma descrição muito próxima dos irmãos Buendia de García Márquez, mas se desenvolve no estilo tão próprio de Madeira. Um estilo que traveste de poesia os piores e melhores sentimentos de seus personagens, sem resvalar uma única vez no senso comum. A centralidade das referências familiares na personalidade de seus personagens e o final polêmico são duas características semelhantes de Véspera com “Tudo é rio”, mas em uma história absolutamente original. Sobre a condição feminina, há questões muito interessantes sobre a influência nefasta da religiosidade na vida das mulheres. Assunto improvavelmente tragável sobre o qual a autora cria um dos desfechos mais comoventes que já li. Me resta a “Natureza da mordida”, livro já comprado, mas ainda não lido, que ficará para ocasião especial. Carla Madeira entra para o seleto grupo de autoras desta lista que quando lida é necessariamente resenhada: é impossível não recomendar seus textos, mesmo sendo tão difícil escrever sobre eles. #LeiaMulheres #LeiaCarlaMadeira
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