Lista “Mulheres, literatura e libertação”
2 – A vida invisível de Eurídice Gusmão por Marta Batalha
Eurídice e Guida são personagens de Martha Batalha no livro “A vida invisível de Eurídice Gusmão“. Romance que considero brilhante pela leveza do texto aplicada ao peso da história sobre o machismo estrutural. Aqui, falarei apenas sobre Eurídice, mesmo que muito também pudesse ser dito sobre Guida.
Eurídice, nascida na década de 1920, é uma mulher genial que vive, como costumava ocorrer naquela época, no círculo social de sua família e vizinhança. Tudo que faz, faz com o talento e a obsessão dos gênios: toca piano, cozinha, costura, escreve, basta querer fazer.
Contudo, sua dedicação aos seus projetos é intolerável para seu marido e vizinhos. E olha que Eurídice tem suas tarefas sempre em dia! Não negligencia o cuidado com os filhos e marido, sua casa é impecável. Mas, como aceitar que uma mulher dedique tanta energia em projetos extraordinários? A vida de uma mulher deveria ser feita apenas de obrigações compulsórias!
Eurídice tem uma vida economicamente confortável e uma família tranquila, seus problemas são: a ausência de Guida, sua irmã, e a interrupção de seus projetos, que lhe é imposta sistematicamente. Problemas enfrentados com resiliência por Eurídice e narrados com certo humor por Martha Batalha, numa espécie de fábula do tipo Amélie Poulain.
Em sua adaptação para o cinema (“A vida invisível“), a história foi mutilada, sendo transformada num pesado clichê sobre opressão. A genialidade e a resiliência de Eurídice foram obscurecidas, e todas as lindas personagens do livro ganharam uma versão sem brilho no filme. Em post anterior, falamos do Emicida, pois é:
O livro fala da vivência de Eurídice, ao fim dele, dizemos:
– Nossa, olha o quanto o mundo perdeu sem Eurídice!
O filme fala apenas de cicatrizes, ao fim dele, perguntamos:
– Nossa, quanto Eurídice perdeu?
Qual a história você prefere? Vivência ou sobrevivência?
Essa lista das @rendeirasrs está crescendo exatamente para contemplar outra histórias de belas vivências femininas.
#LeiaMulheres
Texto originalmente publicado para as Rendeiras
