Literatura

30 anos depois: Grande Sertão Veredas por Guimarães Rosa

Faz 30 anos, li cem anos de solidão, abri a primeira página, e o mundo se abriu. Absolutamente desconhecido, não conseguia sair da parte do mundo que estava atravessada pelo mundo criado por García Márquez, em palavras de combinação única para dar forma e sentido. Só parei quando as palavras acabaram.

Antes e depois disso, muito li. Amei muitos livros, textos incríveis, personagens extraordinários, enredos significativos, alguns viciantes, mas não vivi igual sensação de cem anos de solidão. O mundo não mais se abriu .

Havia a promessa deste tal grande sertão veredas, formado, entre outras coisas, por frases lindas, carregadas de profundo e certeiro sentido, que hoje se espalham nas redes sociais. Frases que nunca consegui alcançar no avanço truncado de minhas tentativas de ler grande sertão veredas.

Até então, Guimarães Rosa era sentido por mim como um grande frasista, mas não romancista (conclusão que nunca atribuí ao seu mérito, mas sempre à minha ignorância ).

Um dia, me desfiz do exemplar barato que tinha: o grande sertão veredas não é para mim . As frases, contudo, seguiam me alcançando, a cada postagem lida, uma promessa: grande sertão veredas.

O tempo passou, nestes 30 anos conheci gênios iletrados que falavam um português com suas próprias regras. Em 2023, com Eduardo e Paula, conheci o sertão paraibano. Assim, o sentido expresso em igual e, ao mesmo tempo, distinto idioma e o som do vento ampliado pelo mais absoluto silêncio, me fizeram comprar outra edição da obra prima de Guimarães Rosa.

30 anos depois, na tentativa de número que não consigo lembrar, ao ler em voz alta o primeiro parágrafo, o mundo novamente se abriu e leio as palavras de grande sertão veredas sem conseguir parar.

Feliz ano novo!

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