As duas questões fundamentais de “O Segundo Sexo” são:
“Em que o fato de sermos mulheres terá afetado nossa vida?”
“Quais oportunidades nos foram oferecidas, exatamente, e quais nos foram recusadas?”
Sobre essa questões vou contar um pequena história pessoal.
Na adolescência, fui presidenta do grêmio estudantil de minha escola, tinha uma liderança que no grupo costumava ser exercida pelos meninos A liderança para um menino aproxima as meninas, no meu caso, afastava. Uma noite, nesta mesma época, ouvi uma entrevista da Maria do Rosário na antiga rádio Pop Rock. Ela disse: “Ninguém tira a presidenta do grêmio estudantil para dançar.” Ao ouvi-la, sorri: pelo menos não sou só eu.
Me tornei mulher me sentindo frequentemente deslocada, mas sem nenhuma ideia de como ser diferente. Pensava em participar menos das discussões, talvez ser menos incisiva, mas não conseguia. Aliás, nunca consegui para falar a verdade.
Esse meu dilema existencial é muito bem explicado por Simone quando fala da imanência e da transcendência, conceitos frequentemente tratados pela Filosofia. Simone diz que a primeira vocação da mulher será sempre a de agradar, essa é a sua imanência. Pensamos que essa é uma realidade que havia ficado para trás, mas, em pleno 2019, Máriam Martínez-Bascuñán falar desta imanência feminina ao mencionar um político espanhol que disse: “Eu gosto que a mulher seja mulher, mulher”. Para Martínez-Bascuñán, “esse modelo ideal se conecta diretamente com as expectativas geradas em torno das mulheres, com os clichês sobre sua predisposição para cuidar dos outros e agradar, sobre seu gosto ao se vestir, sua capacidade de sedução e seu sorriso.”
No Brasil, somos bombardeadas por esse tipo de campanha que busca enaltecer essa forma específica de ser mulher em detrimento de todas as outras formas possíveis de existir. Provavelmente, o marco mais ultrajante deste movimento a manchete “Bela, Recatada e do Lar” estampada na capa da revista Veja no exato momento do impeachment da Presidenta Dilma Rousseff. Que forte mensagem nos passaram!
Amanhã, seguimos falando sobre Simone, especificamente sobre transcedência e opressão.
#vemserrendeira
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